Texto de referência ao tema:
«Independentemente do lugar onde vivemos ou de quem somos, quando se liga o ecrã do nosso televisor ou do nosso computador, vemo-nos mergulhados no mundo da comunicação global. Estamos ligados. Mas ligados a quê? (...)
A globalização é uma transformação do mundo que conhecemos, mas é também um estado de transição que rompe com as nossas formas de conhecer o mundo em que vivemos. (...)
Na minha opinião, a globalização tem de começar necessariamente no nosso país. Para que possamos medir correctamente o progresso global, é preciso que comecemos por avaliar como lidam as nações em vias de globalização com "a diferença interna" - os problemas da diversidade cultural e da redistribuição, bem como os direitos e as representações das minorias. (...)
Um exemplo do cosmopolitismo pós-colonial à escala global é o que cada vez mais é conhecido como a "metáfora indiana" - ou seja, a forma como a experiência da Índia contemporânea rapidamente está a ser transformada num modelo, até mesmo numa metáfora, para a vida e o trabalho no mundo global da actualidade (Tom Friedman).
Falar da metáfora indiana numa época de globalização é reconhecer os processos de transferência - financeira, cultural, mediática e de mercados -, bem como o processo de transformação - o questionamento da soberania nacional, as ambiguidades das leis e convenções internacionais, a hibridização das culturas, as complexidades da governação global. (...)
(...) a dúvida global é uma componente essencial da ética humanitária e das políticas de inclusão, componente essa que "proporciona uma noção de pertença que leva muita gente a pôr em causa aquilo que considera ser uma injustiça que divide a população mundial". (...) A "dúvida" é (...) uma prática social que consiste em questionamento próprio, inteligência crítica, decisão ético-política e interlocução social. É o processo pelo qual testamos as condições da verdade e as consequências práticas, pragmáticas, dos nossos actos como intervenientes no mundo. A dúvida global é crucial para a nossa noção do que está em causa quando nos afirmamos actores globais. (...)
A Insatisfação é a capacidade de compreender que, para podermos aspirar à transformação ética e equitativa do mundo global em que vivemos, sistemática e incansavelmente teremos de "regressar" às condições sociais e históricas daqueles que se encontram no domínio da morte social - os excluídos, os marginalizados, os desprovidos. (...) a liberdade é um valor político que exige um esforço constante e uma vigilância permanente para a manutenção da sua dimensão moral, do seu impulso gerador de vida. A liberdade faz aposta com o futuro, embora recusando-se a esquecer o passado. (...)
É importante recordar que a porta da História não está aberta nem fechada. Situamo-nos no limiar entre a civilização e a barbárie, entre a guerra e o progresso. Temos de observar com coragem e honestidade as diversas paisagens do mundo contemporâneo que é o nosso para podermos prosseguir caminho. Não podemos perder nunca a grandiosa capacidade humana de manter a esperança a todo o custo, ainda que os ventos de mudança soprem com violência contra a porta da História e contra a nossa morada humana.»
Excertos de: Homi K. Bhabha, Ética e Estética do Globalismo: Uma Perspectiva Pós-Colonial
Imagem: pintura de Johannes Vermeer (1632-1675)
Actividade
- Após leitura atenta do texto acima transcrito, elabore a sua reflexão sobre o tema "Ética e Globalização". Na sua abordagem, deve considerar os sub-temas debatidos ao longo das aulas.
Bom trabalho!
Imagem: pintura de Johannes Vermeer (1632-1675)
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