ÉTICA E GLOBALIZAÇÃO
O Caso de Madonna no Malawi.
Nos anos recentes, o termo globalização invadiu os meios de comunicação social, devido principalmente, às manifestações ruidosas, algumas delas violentas, organizadas contra as reuniões cimeiras de chefes de Governo dos países industrializados.
A globalização traduz a crescente interligação e interdependência entre os países em resultado da liberalização dos fluxos internacionais de comércio, de capitais, de tecnologias, de informação e do aumento da mobilidade das pessoas que se têm vindo a verificar depois da 2ª guerra mundial.
São vários os factores impulsionadores da globalização de que hoje tanto se fala.
Por um lado, a redução das barreiras aos movimentos internacionais de mercadorias, serviços e capitais que tinham sido erguidas nos anos 30 e a diminuição substancial dos custos de transporte.
As transacções diárias nos mercados cambiais no mundo ultrapassam hoje 3 triliões de euros, trinta e cinco vezes mais do que no princípio dos anos 80.
Por outro lado, a globalização tem sido impulsionada pela redução dos custos de comunicação e difusão de informação e ideias, em resultado dos grandes avanços tecnológicos nos domínios das telecomunicações e informática, com destaque para a Internet.
A nível mundial, a globalização é claramente benéfica para o desenvolvimento e o bem-estar das populações. Alarga o campo de escolha dos indivíduos e promove o desenvolvimento dos mercados financeiros, porque estimula o investimento e a valorização dos recursos humanos.
A grande questão que levanta não é de saber se a globalização é ou não benéfica para o mundo como um todo, mas sim a da equidade na distribuição dos seus benefícios entre os países e entre os indivíduos. É aí que se põe a maior parte dos problemas éticos.
Como os benefícios da globalização não se distribuem equitativamente entre os países, impõe-se uma política redistributiva à escala mundial, dos países mais ricos para os mais pobres.
Primeiro, por uma razão moral. Os habitantes dos países ricos não podem ignorar as condições de extrema pobreza e sofrimento em que vivem as pessoas de alguns países do mundo.
Há países para quem não basta a adopção de políticas correctas para conseguirem colher os benefícios da globalização. São países de rendimento de tal forma baixo, principalmente na África Sub-sahariana, com uma dotação de factores físicos e humanos extremamente débil, ou com um nível de endividamento insustentável que os impede de vencerem a “armadilha da pobreza” em que estão apanhados sem uma ajuda extraordinária dos países mais ricos.
Vejamos por exemplo o caso de adopção de Madonna no Malawi:
Não é eticamente aceitável que a Suprema Corte do Malaui tenha aprovado o pedido de Madonna de adopção de uma segunda criança do país, contrariando a decisão judicial de um tribunal inferior, alegando o bem superior da criança. Esta será a segunda vez que a cantora adopta uma criança no país, sob fogo de organizações locais que alegam que a lei do Malawi (sul de África), só permite a adopção a quem more no país. No entanto, neste caso em particular, o Tribunal de Apelações indicou que a exigência de residência é uma barreira "arcaica", que não pode impedir a adopção.
O Governo do Malawi foi muito criticado por grupos de direitos humanos, depois de ter permitido a adopção de David Banda, o menino do Malawi também adoptado por Madonna em 2006. As organizações acusaram o Governo de abrir excepções à lei, que proíbe a adopção por estrangeiros ou não residentes, bem como de ter dado tratamento especial à Madonna.
Segundo o juiz presidente do Tribunal do Malawi, a cantora mostrou interesse em ajudar os órfãos do país e a menina de quatro anos, Mercy James, terá uma vida melhor com a cantora do que se permanecer no Malawi, alegando que o facto da cantora não residir no país não se pode sobrepor ao bem estar da criança. “Ela terá mais afecto e bem-estar do que aquele que é proporcionado no orfanato que a recebeu depois de também ter perdido a mãe. Permitimos por isso a adopção”.
Para a associação “Eye on Child”, a lei do Malawi foi feita para evitar o tráfico de crianças, e abrir uma excepção pode criar um mau precedente. Vítima de um cenário epidémico de sida, o Malawi tem muitos órfãos deixados pela doença sem família nenhuma que os possa acolher. O facto de Madonna ter criado no país um fundo para ajudar estes órfãos da sida, com a fundação “Raising Malawi” também terá contribuído para esta autorização do processo de adopção.
James Kambewa, o pai da menina de 4 anos Mercy James, originalmente disse que era contra a adopção, mas no fim só disse:
"Peço à Madonna que se certifique que enquanto a criança crescer, ela saiba de mim enquanto seu pai biológico... ela realmente precisa saber que enquanto ela está longe, o seu pai ainda está vivo."
Num mundo cada vez mais integrado e interdependente alarga-se o âmbito de aplicação dos princípios éticos que devem guiar a acção dos indivíduos. Todos, em certa medida, somos responsáveis pelas injustiças que grassam no mundo. Os eleitores dos países ricos deviam pressionar mais os políticos nacionais a adoptarem políticas compatíveis com a erradicação da extrema pobreza no mundo.
A minha opinião:
Do ponto de vista ético, o que me parece mais grave é confirmar que nestes países, o facto de se ser rico, uma personalidade ou estrela de Hollywood, permite quebrar leis mais prementes e ultrapassar princípios de uma cultura que para outros que não tivessem o mesmo estatuto, o desfecho não seria tão risonho.
É verdade que Madonna criou naquele país, um fundo para apoiar crianças com sida, o que poderá significar um grande investimento até de carácter económico para o país, no entanto, pergunto-me porque não o terá feito em Londres ou Nova York onde reside habitualmente? Decerto haverá muitas crianças também necessitadas.
Gostaria de acreditar que estes actos são de natureza e sentimentos nobres e não porque desta forma o mediatismo das estrelas será ainda maior.
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